Era um dia típico de verão, quente e claro. Estava muito calor, mesmo no quintal de casa onde tinham muitas árvores e plantas. Minha mãe improvisou um chuveiro com a mangueira de jardim para nos refrescarmos. Basicamente pendurou a ponta dela na árvore e ligou para a água cair. Nesse bairro nunca se pagou água, mesmo que você quisesse pagar, a concessionária de água não atendia e não atende até hoje bairros considerados de risco. Cada um de nós, irmão e primos, ficava embaixo da água e contávamos até dez, esse era o tempo para revezarmos a água que corria.
Meu pai chegou mais cedo do serviço e entrou em casa. Disse que não entregaram o material da obra e não puderam trabalhar. Mal chegou e disse que ia aproveitar para ajudar meu tio no reparo da tubulação de esgoto da casa dele. Gostei da ideia, queria qualquer motivo para sair de casa.
- Mãe, posso ir com meu pai? - gritei lá do quintal, ela falou qualquer coisa que eu não compreendi mas entendi que sim. Meu irmão aproveitou para ir também, e corremos atrás do pai, com bermuda e camisa molhada, andando pela rua. Naquele calor, tudo normal e ia secar em pouco tempo.
No caminho tínhamos que descer o morro, e dobrar a esquerda em direção a outro morro, mas esse não era habitado, ainda era coberto de vegetação natural, algumas plantações e poucas casas que podiam ser vistas de longe. Uma delas, lembro bem, era branca, com telhas de barro. Duas águas para as laterais, coisa bem simples. Tinha uma janela à esquerda e uma porta simples à direita, na frente da casa. Era o que dava para perceber a certa distância. Era distante mas ela ficava bem alta e destacada, impossível não repará-la.
Comecei a falar com meu pai sobre quem poderia morar naquela casa. Parecia legal porque tinha muitas árvores e uma enorme rocha próximo a ela. Me imaginei subindo naquela pedra e pulando. Meu pai, como um adulto racional, disse que era muito longe do comércio, da igreja e da escola, e que deveria ser muito trabalhoso descer todos os dias de lá. Meu irmão estava desatento e perguntou de que casa estávamos falando.
- Daquela casa branca - e apontei para casa, no exato momento em que a casa EXPLODIU.
Ficamos paralisados, nós três olhando uma enorme bola de fumaça negra subindo pelo telhado, que não podia ser mais percebido. O som veio um pouco depois, som grave e pesado, deu pra sentir no peito o barulho. Chamas altas, amarelas e laranjas saiam pela janela e pela porta. Segundos depois, percebemos três pessoas saindo pelas laterais da casa, ou pelos fundo, não sei afirmar, duas para a direita e uma para a esquerda em direção a pedra. Os corpos em chamas, corriam desesperados morro abaixo, se batendo de todo jeito para se livrar do fogo, mas sem sucesso. Um deles, rolou no chão e sumiu na vegetação alta. Não havia ninguém lá que pudesse ajudar e socorrer. Lembre no que meu pai acabara de comentar, era distante de tudo, inclusive de socorro de qualquer tipo ou pessoa. Bombeiros? duvido que chegasse até lá.
A fumaça foi ganhando o céu num formato de cogumelo. A casa já não era mais branca e perdera toda a sua beleza em minutos. O fogo consumiu a casa e o que estava ao redor em poucos minutos e depois baixou depressa, não pudemos fazer nada além de assistir e lamentar. Impressionados, seguimos nosso caminho.
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